CORREIO BRAZILIENSE • 05 de fevereiro de 2025
Fonte da Notícia: CORREIO BRAZILIENSE
Data da Publicação original: 03/02/2025
Publicado Originalmente em: https://www.correiobraziliense.com.br/euestudante/2025/02/7049419-projetos-ajudam-a-atrair-meninas-para-cursos-da-area-de-exatas.html
A participação feminina é de extrema importância em diversos setores de nossa sociedade, mas há um campo no qual elas vêm ganhando cada vez mais espaço: a ciência. Nomes como Caroline Herschel, na astronomia, Ada Lovelace, na computação, e Marie Curie, na química, são clássicos em suas respectivas áreas. Apesar dos avanços, a disparidade de gênero ainda é uma realidade, com mulheres enfrentando desafios e preconceitos que as impedem de alcançar seu pleno potencial. Para lembrar a importância das mulheres em um campo tão importante, em 11 de fevereiro, o mundo se une para celebrar o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, uma data que busca reconhecer e valorizar a importância da participação feminina na ciência e tecnologia.
Em Brasília, iniciativas inspiram jovens mulheres a seguirem carreira na ciência, desmistificando desafios e abrindo portas para o futuro acadêmico. Uma das mais importantes é o Meninas.comp, projeto que incentiva garotas de escolas públicas do Distrito Federal a ingressarem em cursos de ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM), áreas tradicionalmente dominadas por homens.
Criadora da iniciativa, a professora e pesquisadora do Departamento de Ciências da Computação (CIC) da Universidade de Brasília (UnB), Aleteia Favacho, 49 anos, avalia que falta incentivo para as meninas ingressarem nas áreas de exatas. Ao entrar na graduação, ela percebeu que havia algo em falta: referências femininas na ciência da computação. "Eu conhecia Bill Gates e Steve Jobs, mas nunca tinha ouvido falar de uma mulher na área. As meninas precisam ver que existem mulheres na ciência e que elas também podem ocupar esse espaço", afirma.
Emily Bernardes, 21, cursa engenharia de redes e comunicação e participa do projeto. Integrar a iniciativa não apenas mudou os rumos da carreira dela, mas também transformou sua visão sobre o papel das mulheres na tecnologia. "Passei a enxergar que tenho espaço no mercado e que posso competir de igual para igual", diz.
Meninas na Física
Além da tecnologia, ações no campo da física vêm ganhando destaque. Umas das que mais se destacam no DF é o "Atraindo meninas para Física", do Instituto de Física (IF) da UnB, criado pela professora Adriana Ibaldo, 43. A iniciativa atendeu mais de 3.500 estudantes no Distrito Federal e Entorno e busca entender as barreiras que afastam as mulheres da física. Além disso, há proposta de ações afirmativas e políticas públicas para fixar talentos femininos na área. "Precisamos de dados concretos para agir de forma eficiente. Não basta apenas incentivar, é preciso entender os gargalos e combatê-los", ressalta.
Suellen Marinho, 26, cursa licenciatura em química e é uma das integrantes do projeto. Para ela, a pesquisa, que explora a química das tintas e a relação entre ciência e contexto histórico, ampliou sua visão sobre o campo de atuação da química. "A ciência não é uma área isolada. A química transita por todas as áreas do conhecimento, e quero mostrar isso para meus futuros alunos", comenta. O projeto reforçou sua crença de que a presença de mulheres na ciência vai além da estatística: é uma questão de visibilidade e incentivo para novas gerações. "Ainda há uma ideia enraizada de que a mulher precisa escolher carreiras ligadas ao cuidado, como enfermagem e pedagogia", critica.
Apoio à Pesquisa Feminina
Além das instituições públicas, as faculdades particulares da capital têm ações que buscam ampliar o espaço das mulheres na ciência com políticas de incentivo à pesquisa e à extensão, como é o caso do Centro Universitário de Brasília (Ceub). Segundo a assessora de projetos de extensão do Ceub, Fernanda Vinhais, todos os editais acadêmicos contemplam as necessidades de estudantes gestantes e outros grupos minoritários, com atenção especial às mulheres que enfrentam desafios específicos na trajetória acadêmica.
O Ceub também acompanha iniciativas dos próprios estudantes. Um exemplo é um projeto criado pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE), que propôs a criação de um espaço dentro da universidade para acolher alunas gestantes e mães de recém-nascidos. "A ideia inclui um ambiente adequado para o aleitamento, além de um espaço infantil para que as mães possam trazer seus bebês e estudarem com mais tranquilidade", destaca Fernanda. A proposta está em análise pela Reitoria.
Uma das beneficiadas por esse tipo de olhar foi Rebecca Ribeiro, 32. Ela começou sua trajetória na ciência durante a graduação e enfrentou o desafio de conciliar a maternidade com a pesquisa. "No início, achei que não conseguiria dar conta, mas tive apoio e segui em frente. Hoje, vejo como essa experiência mudou minha trajetória", conta. Seu projeto de iniciação científica, que investigou a relação entre o tipo de pré-natal e a depressão pós-parto, rendeu-lhe um prêmio de destaque na iniciação científica
A falta de referências femininas na ciência sempre foi um desafio. Essa realidade, no entanto, está mudando graças à presença crescente de pesquisadoras que abordam temas antes invisibilizados. Segundo a pesquisadora da área de psicologia Luana Souza, 37, ter mulheres ocupando espaços na ciência não é apenas uma questão de equidade, mas também de avanço do conhecimento. "A diversidade traz novas perspectivas e enriquece o campo acadêmico", afirma.
A pesquisadora acredita que essa mudança está em curso: "Hoje, vemos mais mulheres em cargos de liderança e em áreas antes dominadas por homens, como tecnologia e engenharia. Ainda há desafios, mas estamos caminhando para um cenário mais igualitário". Para que essa transformação continue, ela reforça a necessidade de investimentos em programas de incentivo e da construção de um ambiente acadêmico mais acolhedor para as pesquisadoras.