CORREIO BRAZILIENSE • 27 de janeiro de 2025
Fonte da Notícia: CORREIO BRAZILIENSE
Data da Publicação original: 27/01/2025
Publicado Originalmente em: https://www.correiobraziliense.com.br/opiniao/2025/01/7043629-mudancas-no-ead-e-novas-oportunidades-no-ensino-superior.html
Carlos Longo, Reitor da Universidade Católica de Brasília (UCB) e vice-presidente da Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed)
Com o final de 2024, o ensino superior brasileiro se encontra diante de uma das mais amplas discussões sobre regulação dos últimos sete anos. Em 2025, espera-se a promoção de mudanças significativas na regulamentação do ensino a distância (EAD), que poderão desencadear novas ondas de fusões entre grandes grupos consolidadores e oferecer oportunidades para instituições de ensino superior (IES) regionais de médio porte — sejam elas privadas, confessionais, comunitárias ou sem fins lucrativos.
O Ministério da Educação (MEC), por meio da Secretaria de Educação Superior (Sesu) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), que é responsável pela gestão da Universidade Aberta do Brasil (UAB), tem o desafio de incentivar a entrada de universidades públicas no EAD. Essa participação é hoje inferior a 3% do total de matrículas em EAD, o que contrasta com o potencial dessas instituições para oferecer formação de qualidade. Uma meta desafiadora para o MEC seria elevar essa participação para 15% nos próximos cinco anos, com foco especial em áreas como licenciatura e saúde, que são cruciais para a sociedade. Tal avanço seria particularmente relevante nas regiões Norte e Nordeste, onde o risco de um apagão de mão de obra qualificada nos próximos cinco a 10 anos é significativo.
Entretanto, essa mudança no marco regulatório deve vir acompanhada de um aumento nos custos operacionais das IES, o que pode impactar negativamente as regiões menos favorecidas, onde o ticket médio é baixo e insuficiente para remunerar os investimentos necessários. Esse é um ponto crucial para o planejamento das novas regras.
A qualidade do EAD segue como o cerne da discussão regulatória. Evidências científicas demonstram que o EAD pode proporcionar uma formação teórica equivalente ou até superior à do ensino presencial. Contudo, a formação prática, especialmente em áreas como saúde, exige atividades presenciais ou simuladas que complementem a experiência acadêmica, independentemente da modalidade de ensino. Embora as propostas da Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior (Seres) endureçam parcialmente essas questões, ainda restam lacunas sobre como implementar as mudanças esperadas para melhorar a formação, tanto presencial quanto a distância.
Outro aspecto pouco discutido é a baixa qualidade da formação no ensino médio dos estudantes que ingressam nas IES, especialmente aqueles provenientes da rede pública. Cerca de 75% dos alunos matriculados em cursos de EAD provêm do ensino médio público, geralmente com deficiências na formação básica que não podem ser plenamente corrigidas por meio de cursos de nivelamento no primeiro ano da graduação. Esse cenário exige soluções mais abrangentes e articuladas entre os níveis de ensino.
Grandes grupos consolidadores enfrentarão pressões adicionais devido ao aumento dos custos de captação de alunos, à redução do ticket médio e às altas taxas de evasão. Relatórios de bancos de investimento mostram que, após aquisições bilionárias, esses grupos frequentemente veem seu valuation cortado pela metade em dois a três anos, especialmente quando falta capacidade de crescimento orgânico. Contudo, há exceções, como grupos que priorizam cursos de medicina, os quais apresentam um modelo mais sustentável.
Nesse cenário, as IES regionais têm uma oportunidade única de se diferenciar. Ao oferecer formações alinhadas às demandas produtivas locais, essas instituições podem justificar tickets médios superiores e garantir melhores perspectivas de emprego e renda para seus egressos. Essa abordagem contrasta com os modelos escaláveis dos grandes grupos, que muitas vezes não conseguem atender às demandas específicas das regiões onde atuam.
Para gerar valor e diferenciação competitiva, as IES regionais devem investir na implementação da tríplice hélice da inovação, que integra academia, setor produtivo e governo. Essa abordagem permite uma maior aproximação entre ensino e mercado, promovendo soluções inovadoras tanto na graduação quanto na pesquisa. É crucial que essas instituições explorem sua força local para estabelecer parcerias estratégicas e atender às demandas regionais de forma personalizada.