O próximo passo para a inovação no Brasil deve ser a metrificação, diz especialista

WHOW • 10 de fevereiro de 2021

Fonte da Notícia: WHOW
Data da Publicação original: 05/02/2021
Publicado Originalmente em: https://www.whow.com.br/inovacao/o-proximo-passo-para-a-inovacao-no-brasil-deve-ser-a-metrificacao-diz-especialista/


Seis porcento da receita líquida das empresas atuantes no Brasil devem ir para a inovação. Este é o montante estimado, tanto para 2021 quanto 2022, indicado no primeiro relatório do Observatório da Inovação do Centro de Referência de Inovação da Fundação Dom Cabral (FDC), ao qual o portal Whow! teve acesso.

Mas por que não há um aumento nesta expectativa de um ano para o outro? De acordo com Hugo Tadeu, pós-doutor em modelos matemáticos para tomada de decisão pela Universidade da Colúmbia Britânica no Canadá e coordenador o relatório na FDC, deve-se considerar o histórico de anos anteriores, quando este investimento nas companhias era quase menos da metade, entre 2% e 3% da receita líquida. “As empresas, como IBM e Petrobras, estão colocado o dinheiro na inovação de processos e isso traz uma mensagem positiva, pois todos vinculam a inovação ao glamour da tecnologia”, destaca ao Whow!.

O estudo foi realizado com metade das 24 empresas patrocinadoras do Observatório (MRV Engenharia, Banco do Brasil, Andrade Gutierrez, ArcelorMIttal, Mercedes-Benz, Nexa, Vale, Votorantim, Jacto, Spassu Tecnologia, Oxiteno, Time-now Engenharia, Pottencial Seguradora, Embraer, Bancoob, IR BrasilRE, Localiza, FIESC, GrupoÁguIa Branca, Alelo, Subsea 7, Petrobras, Prosseguir, Hydronorth) e por um motivo contratual a instituição não revelou o nome das companhias participantes do estudo. A finalidade do relatório executivo é gerar uma análise, bem como métricas de inovação sobre as empresas brasileiras.

Outros dados que chamam a atenção passam pela expectativa de investimento, respectivamente de 40% em 2021 e 45% em 2022 dos recursos de treinamento em qualificação dos colaboradores em inovação. As empresas vão buscar uma aceleração no tempo de desenvolvimento das inovações 35% menor em 2021, em comparação com 2020, e 40% menor em 2022, em comparação com este ano. Além disso, as empresas esperam um aumento de 70% no número de ideias geradas em relação aos anos anteriores.

Foco na inovação de processos

Segundo Hugo, o novo estudo, que será mensal, traz luz para a necessidade de se acompanhar os indicadores de inovação com reflexo nas companhias. “Temos empresas [no Brasil] que nunca foram de compartilhar dados de inovação. Inovação tem a ver com um processo estruturado e com práticas de investimento”, diz.

O coordenador da pesquisa também comenta que o foco na inovação de processos, por parte das empresas atuantes em solo nacional, tem um objetivo claro: ganho de produtividade. “Dentre dos ganhos de produtividade, a área de treinamento estimula a capacitação da mão de obra, ou seja, não adianta criar uma estrutura de inovação, sem que seja conhecido o que se espera da inovação”, comenta. Ele ainda deixa um questionamento: “Como avançar com tecnologia, quando as pessoas sabem pouco sobre o tratamento de dados?“

Dados apresentados também indicam a estimativa que 2021 apresente-se com 22% de aumento nos ganhos de produtividade nos processos internos em relação às receitas líquidas, enquanto 2022 é esperado terá 27,5% de melhora.

Necessidade da metrificação

Se por um lado a inovação em processos está em alta, a inovação social não compartilha do mesmo nível de entusiamo das empresas respondentes. Tanto para este ano quanto no próximo, o nível da estimativa para recursos distribuídos em inovação social representará um terço do que é esperado para a inovação de processos.

“Na parte qualitativa ,as empresas ainda não têm mecanismos de avaliação de praticas ESG. As empresas ainda não sabem mensurar esta área. Existe a iniciativa, mas não o seu impacto”, afirma Hugo, que também atua no time de especialistas na área de inovação do Fórum Econômico Mundial.

Então como realizar a mensuração da inovação nos seus diferentes formatos? Para o especialista é preciso “ter clareza de portfólio”. “Estas empresa ainda caminham para ter um proftolio de inovação. [Elas] Têm uma estratégia, discutem parcerias, mas precisam chegar e medir a inovação e ter métricas. Mensurar para o negocio corporativo quanto para a sociedade e assim sair do intangível para o mensurável”, comenta.

Empresas para serem observadas

Na parte final do relatório 10 empresas aparecem com o título “Para serem observadas”, são elas: Magazine Luiza, WEG, Natura, Localiza, Intermédica, Lojas Americanas, B2W, Via Varejo, Totvs, Unidas, Duratex e Fleury. E o que as separa das demais empresa no Brasil são quatro fatores, segundo Hugo: solidez com governança, estratégia de inovação, recorrência em projetos de inovação e geração de caixa, com alto Ebitda.

“Elas têm ampla expectativa de reinvestimento e também acquihire, com investimentos em projetos de inovação. A nossa intenção não é recomendar investimentos, mas mostrar aos investidores para olharem para empresas que gerem caixa”, pontua o coordenador do relatório da FDC.

A inovação no Brasil em 2021

De forma geral, o professor da Fundação Dom Cabral faz uma leitura positiva sobre o cenário da inovação no Brasil. Ele comenta que a maior conexão entre startups, fundos de investimento e universidades já é um bom indicativo do empreendedorismo no país.

Além disso, para ele, o ambiente público teve ações para o desenvolvimento do ecossistema, como Marco Legal das Startups, incentivos do BNDES para investimento em máquinas e equipamentos.

Já no quesito de próximos passos para a evolução da inovação no Brasil, ele deixa uma dica:

“Os gestores de inovação devem mostrar o quanto contribuem para o crescimento das empresas. E a palavra-chave precisa ser que a inovação requer disciplina, rigor técnico e resultado financeiro de curto e longo prazo.”

Hugo Tadeu, pesquisador e professor na Fundação Dom Cabral

Ele ainda pontua um aspecto macro para e evolução do ecossistema no país. “O Brasil também precisa de uma inserção maior nas cadeias globais de valor e ter um acesso maior de pesquisa e parcerias. Esta troca seria interessante para o nosso crescimento”, conclui.


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