WHOW • 17 de dezembro de 2020
Fonte da Notícia: WHOW
Publicado Originalmente em: https://www.whow.com.br/mentes-brilhantes/sergio-risola/maquinas-e-o-homem-a-inteligencia-artificial-e-seus-avancos-no-brasil/
A Inteligência Artificial aparece no cinema e na literatura, com enredos que debatem a própria existência humana com diferentes perspectivas e abordagens, mas sempre trazendo a ideia central de que as máquinas podem ocupar o lugar do homem. Alguns destas obras se tornaram clássicos da ficção científica como Star Trek (1966), Blade Runner (1981), Exterminador (1982), Matrix (1999) ou até o mais recente Her (2013).
Apesar de incorporarem tecnologias ou imaginá-las, provocando e inspirando cientistas, engenheiros e empreendedores a desenvolver novos sistemas, a maioria dos filmes de ficção científica reflete mais a preocupação do ser humano com sua condição e existência do que com a inteligência artificial propriamente dita.
Uma preocupação que já começa a ser refletida em filmes, nas matérias jornalísticas e nas discussões da sociedade como um todo, é com relação ao futuro do trabalho, que engloba a mudança nas profissões e as funções que deixarão de existir, gerando a temida perda de empregos por parte das pessoas se elas não forem preparadas para as novas tecnologias. E, nesse sentido, o grande desafio é como fazer a qualificação das pessoas e prepará-las para esse novo mundo.
Brasil está se preparando?
A implementação da inteligência artificial no Brasil caminhava de forma lenta até pouco tempo atrás. Porém, com a pandemia, houve um processo de aceleração tecnológica e a necessidade de preparar e capacitar pessoas para o domínio tecnologias de IA. Assim, surgiram projetos de pesquisa e capacitação para que a aplicação da IA possa ser ampliada e seus benefícios melhores explorados, assim como seu potencial de modificar o funcionamento de organizações, da própria ciência e de toda a sociedade.
Diante deste cenário, a USP, a IBM e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), se uniram para intensificar esta evolução e criaram o Centro de Inteligência Artificial (C4AI) do Brasil, dedicado ao desenvolvimento de estudos e à pesquisa de ponta em IA para endereçar temas de grande impacto social e econômico. Ambientes como este visam consolidar e potencializar esse processo contínuo de investigação, pesquisa e capacitação das pessoas no domínio das tecnologias digitais.
Centro de Inteligência Artificial (C4AI) do Brasil
Localizado no campus da USP, em São Paulo, o C4AI focará inicialmente em desafios relacionados à saúde, meio ambiente, cadeia de produção de alimentos, futuro do trabalho e no desenvolvimento de tecnologias de Processamento de Linguagem Natural em português. Além destes desafios, serão criados três comitês de acompanhamento com o objetivo de promover temas com foco na indústria, ciência e sociedade.
O projeto está sob a coordenação do professor da Escola Politécnica (Poli), Fabio Gagliardi Cozman, com apoio estratégico da Pró-Reitoria de Pesquisa da USP, além do envolvimento de mais de 60 pesquisadores de 14 unidades de ensino e pesquisa da universidade.
O campus da USP, em São Carlos, também terá uma unidade do centro, voltada a capacitação de estudantes e profissionais, visando disseminar o conhecimento os benefícios da tecnologia para a sociedade.
IA e a Saúde
A saúde é um dos setores que mais tem tido avanços com soluções de IA, já que a ferramenta permite, por exemplo, a realização do primeiro contato com paciente e interações de forma humanizada, tirando dúvidas e até resolvendo pequenos problemas de forma rápida, sem a intervenção humana.
Ação de Robótica no Hospital das Clínicas (HC)
No Cietec, temos várias empresas que desenvolvem soluções voltadas para a IA, mas vale destacar o importante trabalho da NTU Software, startup de pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) em tecnologias de robótica em nuvem, de entrega de aplicações de robôs sociais dotados de recursos da inteligência artificial para execução de tarefas de informação e comunicação, com foco na prevenção e redução dos riscos de contágio dos profissionais de saúde em ambiente hospitalar para o Hospital das Clínicas (HC) de São Paulo.
Laboratório de robótica online (LRO)
Além desse importante projeto, a NTU investiu em um laboratório de robótica on-line (LRO) que conta com robôs virtuais de diferentes portes e funcionalidades; basta ter Internet para ter acesso a todos eles. O LRO possibilita que cada aprendiz tenha seu robô virtual para práticas individuais de aprendizagem, também traz um ambiente de colaboração e compartilhamento em que os alunos podem acessar um mesmo cenário virtual para práticas colaborativas de aprendizagem, além de ambiente de criação de situações problemas em cenários 3D e de práticas criativas no desenvolvimento aplicações robóticas para resolução de situações problemas.
O LRO pode ser usado em escolas, hospitais e clínicas pediátricas, pois permite escalar o uso dos robôs para além do espaço físico de forma segura, além de práticas de aprendizagem em disciplinas complementares. O laboratório pode ser o ambiente ideal para proporcionar o primeiro contato dos alunos com diferentes modelos virtuais de robôs físicos em situações de problemas reais.
Fome de dados
Flavio Yamamoto, CEO da NTU Software, entende que estamos vivenciando o avanço tecnológico da computação em nuvem, ciência de dados, internet das coisas, robótica, inteligência artificial, automação em larga escala. “Diante desse cenário de mudança tecnológica intensa, capacitar-se é um processo. No entanto, a IA tem fome de dados! Para dominar o desenvolvimento de soluções baseadas em IA, é fundamental estabelecer ações concretas para entender os processos de conversão de dados em insights acionáveis. Ou seja, são estratégicas as ações em promover iniciativas como a do Centro de Inteligência Artificial (C4AI) e em estabelecer formas de proteção aos dados do usuário”, ressalta.
IA e a LGPD
Não podemos deixar de mencionar a proposta da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) que traz uma mudança radical de enfoque desde a proteção da privacidade individual à promoção do compartilhamento de dados como um dever cívico. Evidentemente, há questões fundamentais a serem discutidas. Esse novo enfoque promove a criação de um mercado pan-europeu de dados pessoais por meio de um mecanismo chamado de Data Trusts (espécie de mecanismo que gerencia os dados das pessoas em seu nome e tem deveres fiduciários para com seus clientes). Ou seja, esse mecanismo permite que a União Europeia se torne um ator ativo na facilitação da utilização e monetização dos dados pessoais dos seus cidadãos.
Mesmo com o crescimento importante do setor, ainda há muito muito trabalho a ser feito até sua a consolidação no País, e o Cietec, a USP e tantas outras instituições estão organizando esforços para beneficiar esse ecossistema. A pandemia, de fato, foi prejudicial para diversos setores da economia, porém é inegável que para o setor tecnológico foi o impulso que faltava para o desenvolvimento de diversas soluções.
Para que o Brasil possa ter um final feliz e não repetir os roteiros trágicos de alguns filmes de ficção, a Inteligência Artificial precisa se tornar uma das principais vertentes de inovação nesse país, ganhando maior importância na agenda política e linhas de crédito e financiamento.